Até sexta-feira, evento reúne especialistas nacionais e internacionais em debates sobre os rumos do setor editorial brasileiro
O primeiro dia do 4º Encontro de Editores, Livreiros, Distribuidores e Gráficos (EELDG), promovido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), reuniu nesta quarta-feira (20), no Casa Grande Hotel Resort & Spa, no Guarujá (SP), cerca de 300 participantes para debater os rumos do setor editorial brasileiro. Até sexta-feira (22), especialistas nacionais e internacionais participam de mesas, painéis e atividades práticas sobre temas como inovação, inteligência artificial, marketing, sustentabilidade, curadoria e comportamento de consumo.
A mesa de abertura, “A Voz das Entidades: Diálogos, Desafios e Conquistas Compartilhadas”, reuniu representantes das principais instituições do setor. Sevani Matos, presidente da CBL, começou a conversa destacando a importância da união das entidades. “Mais do que um encontro, esse é um momento para mostrar ao público como temos avançado quando trabalhamos juntos, com diálogo, respeito e estratégia. Na CBL, acreditamos muito que essa troca permanente entre nossas instituições é essencial para fortalecer políticas públicas, ampliar o acesso ao livro e à leitura, garantir a diversidade de títulos e proteger toda a cadeia produtiva e criativa do livro. Temos desafios enormes pela frente, mas as conquistas que já alcançamos mostram que estamos no caminho certo”.
Ângelo Xavier, presidente da Abrelivros, destacou a urgência de políticas públicas diante da queda no índice de leitura desde 2019, apontada pela pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, e defendeu o fortalecimento do PNLD como política estratégica. Marcus Teles, diretor da Rede Livrarias Leitura e representante da ANL, ressaltou o papel da chamada Lei Cortez no fortalecimento das livrarias brasileiras, inspirada na bem-sucedida Lei Lang da França.
Já João Scortecci, presidente da Abigraf-SP, lembrou o histórico distanciamento entre editores e gráficos e defendeu o fortalecimento do diálogo: “Descobrimos que as editoras não mordem, e o diálogo está sempre aberto”. Renato Fleischner, diretor do SNEL, reforçou a atuação conjunta das entidades pela atualização da legislação de direitos autorais diante dos desafios da inteligência artificial. Lizandra Magon, presidente da Libre, ressaltou os avanços obtidos com a formulação do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), lançado em 2024, mas ponderou que sua implementação plena ainda está em andamento. “O objetivo é chegar à base e atender pessoas em todas as regiões do país.”
Patricia Amorim, presidente da ABDL, reforçou a preocupação da associação com o acesso do livro ao consumidor final: “Nos preocupamos com a chegada do livro na ponta. Levar o livro até o consumidor final é o nosso cerne.”
O painel seguinte, “Inteligência Artificial e seu impacto na Indústria do Livro”, conduzido pelo argentino Daniel Benchimol (Proyecto451), trouxe reflexões sobre as transformações provocadas pela IA. “Estamos diante de uma mudança social de enorme alcance. A IA já permite feitos que levariam séculos de pesquisa, mas também carrega vieses e alucinações. Precisamos de uma postura crítica e responsável diante dessas ferramentas, entendendo como influenciam nossa cultura e o futuro do livro.”
Na sequência, a mesa “Reflexões sobre as oportunidades: como editores colocam em prática estratégias a partir da realidade do setor editorial”, mediada pela jornalista Talita Facchini, reuniu Felipe Brandão (Planeta Brasil), Renato Fleischner (Mundo Cristão) e Samuel Coto (HarperCollins Brasil). Brandão destacou o potencial de crescimento do mercado digital e de audiobooks no Brasil, além da importância de diversificar catálogos para além do eixo Rio-São Paulo e de fortalecer a literatura infantil. Fleischner ressaltou que 30% das vendas da Mundo Cristão são destinadas ao mercado não religioso e que o digital tem ampliado o alcance da Bíblia. Já Coto lembrou que pesquisas confirmam o protagonismo feminino no consumo de livros, mas defendeu também estratégias específicas para engajar o público masculino.
Encerrando o primeiro dia, o painel “Como fazer com que nossas empresas tenham profissionais cada vez mais inovadores, abertos e diversos?” reuniu Sevani Matos (CBL), Carolina Riedel (Grupo Pensamento), Tatiany Leite (jornalista) e Ellen Costa (Grupo Editorial Aleph), com mediação de Flavia Bravin (Saber, Cogna Educação e PublisHer). As participantes compartilharam experiências pessoais e profissionais, refletiram sobre os desafios de gênero e destacaram a importância de equipes diversas e de culturas organizacionais abertas à inovação.
Para Sevani Matos, a prática continua sendo central no setor: “O nosso setor não é das ciências exatas. Muitas decisões são de feeling, e a feitura do livro se aprende no dia a dia, com equipes formadas por pessoas de diferentes culturas e experiências.” Carolina Riedel ressaltou que a diversidade enriquece a gestão: “Inovação e tradição podem caminhar juntas, e a troca entre diferentes gerações fortalece a prática editorial.” Tatiany Leite trouxe a questão da representatividade feminina nos espaços de poder, enquanto Ellen Costa defendeu o olhar 360º sobre diversidade: “O que parece óbvio nem sempre é. Só conseguimos mudar quando a experiência é aplicada internamente, com equipes que representem mulheres, pessoas pretas e diferentes realidades.”
O Encontro segue até sexta-feira (22), com uma programação que combina painéis, workshops, networking e a participação de especialistas nacionais e internacionais.
Confira aqui a programação completa do evento.