Quando o livro entra no clima: cultura, conhecimento e sustentabilidade na COP30

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13 de novembro de 2025

Quando o livro entra no clima: cultura, conhecimento e sustentabilidade na COP30

Por Luciano Monteiro

 

Entre os mais de 190 países signatários do Acordo de Paris, menos de 20 mencionam explicitamente cultura, patrimônio ou conhecimento tradicional em suas metas climáticas nacionais. O dado, apontado pela Climate Heritage Network e alinhado às comunicações da UNESCO sobre a sub-representação da cultura nas políticas climáticas, evidencia uma lacuna simbólica e prática: ainda falta reconhecer a cultura como força estruturante da agenda ambiental. Afinal, não há sustentabilidade sem cultura, e não há cultura sem conhecimento.

A COP30, que acontece neste mês em Belém do Pará, oferece uma oportunidade singular de reconectar essas dimensões. Pela primeira vez, a conferência acontece na Amazônia, território que sintetiza simultaneamente a urgência climática e a potência de soluções baseadas em saberes locais. Enquanto governos e empresas negociam metas e financiamento, é decisivo voltar o olhar para os setores criativos, em especial o editorial, que transforma ciência em linguagem acessível, preserva conhecimentos e ajuda a formar comportamentos pró-clima.

Mas qual é, exatamente, o papel da cultura e do setor do livro na resposta à crise ambiental global? Em um contexto de desafios sociais e educacionais complexos, não há uma única resposta. É preciso trabalhar em rede, fortalecendo múltiplas estratégias de ação.

É nesse espírito que se insere o painel “Sustentabilidade em cada página: o livro como ponte entre conhecimento e clima”, promovido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), em parceria com a Organização de Estados Ibero-americanos (OEI), no dia 13 de novembro, no espaço Ibero-América Viva, durante a COP30. O encontro busca discutir como a cadeia do livro, da criação à circulação, tem avançado não apenas em práticas ambientais, mas também na compreensão de que livro e leitura são essenciais para enfrentar os grandes desafios contemporâneos. Eles ampliam o acesso ao conhecimento, fortalecem o pensamento crítico e sustentam a capacidade da sociedade de dialogar e construir soluções coletivas. Em um contexto de crises ambientais e sociais, o livro é um pilar da democracia: garante diversidade de vozes, combate a desinformação e promove cidadania.

Nos últimos anos, a CBL vem estruturando um movimento setorial para integrar práticas sustentáveis em toda a cadeia do livro, das distribuidoras às livrarias, das gráficas aos leitores. São iniciativas como diretrizes para uso de papel certificado, redução de resíduos e incentivo à economia circular, eficiência energética e compensação de carbono, ações de diversidade e inclusão, além do fortalecimento da governança ética e transparente. Paralelamente, a CBL tem intensificado processos de formação e sensibilização, acelerando rotas de baixo carbono e estimulando práticas responsáveis em produção, logística e gestão.

Essas estratégias dialogam com compromissos internacionais assumidos pelo setor, como o Pacto dos Editores pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), promovido pela International Publishers Association (IPA) em parceria com a ONU. O pacto incentiva a cooperação global para que editoras e entidades do livro contribuam efetivamente para a Agenda 2030. A CBL é signatária e atua para disseminar esses princípios no Brasil, aproximando o país do debate internacional.

Enquanto setores industriais avançam em métricas de carbono e regulação, o editorial reforça seu papel simbólico, educativo e cultural. O livro traduz a ciência, preserva e valoriza saberes - inclusive tradicionais -, inspira compromisso social e sustenta a imaginação política necessária para mudanças profundas. É o elo entre o conhecimento técnico e a construção de sentidos coletivos, terreno onde nasce a mudança cultural capaz de sustentar transformações ambientais de longo prazo.

Num cenário em que consumidores, leitores e investidores exigem coerência, ética e transparência, a sustentabilidade deixou de ser diferencial reputacional e passou a ser critério de legitimidade. O leitor contemporâneo não espera apenas bons livros: espera que o setor editorial aja com responsabilidade e contribua para uma economia mais justa e de baixo carbono. A sociedade cobra clareza de propósitos e compromissos reais.

Ao lado da OEI, a CBL propõe na COP30 um debate que extrapola o setor: tratar a sustentabilidade como política central nas agendas da cultural, educação e do conhecimento. A cada livro produzido com responsabilidade, a cada ação que amplia o acesso à leitura, a cada história que desperta empatia e compromisso, o livro ajuda a reescrever a narrativa da sustentabilidade no Brasil e no mundo.

Belém é o cenário ideal para esse novo capítulo. No coração da Amazônia, onde a urgência ambiental encontra a potência cultural, o setor do livro reafirma sua função de ponte entre ciência e sociedade. Porque o futuro do planeta depende tanto das florestas preservadas quanto das ideias que conseguimos fazer circular.

O futuro do livro - e do clima - será escrito com responsabilidade, diversidade e imaginação. E ele começa agora, página por página.

 

Luciano Monteiro - Vice-presidente de Comunicação e Sustentabilidade da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Diretor Global de Comunicação e Sustentabilidade do Grupo Santillana

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