Por uma indústria do livro cada vez mais forte

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20 de septiembre de 2022

Por uma indústria do livro cada vez mais forte

Vitor Tavares*

Nos últimos anos, passamos pela experiência do isolamento social decorrente da pandemia e observamos uma disseminação do hábito da leitura em diversos formatos. Em momentos difíceis, o livro foi um alento para muitas pessoas. Como também sabemos, a leitura é pilar fundamental para o acesso à cultura e à educação de qualidade no país, estimulando que tenhamos um Brasil mais desenvolvido, justo e democrático.

Neste mês de setembro, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) completa 76 anos de existência. Desde o primeiro momento em que um pequeno grupo de livreiros e editores se reuniu para discutir o futuro do setor, passamos por muitos desafios. No entanto, nossa essência permanece a mesma. Queremos continuar a fomentar o hábito da leitura em nosso país por meio de eventos, encontros, prêmios e divulgação de informações e pesquisas.

A Bienal Internacional do Livro, realizada em julho, é um reflexo de como aumentou o interesse do brasileiro pela leitura e pelo universo que abrange os livros. Realizamos a Bienal das Bienais, com um público recorde de 660 mil visitantes. Foi um espaço ímpar de convivência.  Precisamos continuar a incentivar o crescimento do público interessado na leitura que surgiu durante a pandemia.

Outro exemplo é a Jornada Profissional, realizada pelo Brazilian Publishers, projeto que visa à internacionalização da literatura brasileira, fruto da parceria entre a CBL e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) que renderam bons frutos para o mercado brasileiro, também durante a Bienal: estima-se que, nos próximos 12 meses, a Jornada Profissional garanta mais de US$ 650 mil em negócios internacionais para as editoras brasileiras. Cerca de 20% dos contratos já foram fechados.

Foram comercializados US$ 104.550 em direitos autorais, ou seja, venda dos direitos de publicação de um título nacional por uma editora estrangeira. Também foram vendidos US$ 119.100 em livros nacionais prontos para serem comercializados no exterior — em português ou já traduzidos para outros idiomas pelas próprias editoras brasileiras.

Participaram do evento representantes de 20 editoras de países como México, Colômbia, Estados Unidos, Portugal e Egito. Também marcaram presença 44 editoras brasileiras.

Nos últimos tempos, ouvimos “O que aprendemos com a pandemia e o que ficará quando ela acabar”. Se depender da CBL, faremos o possível para que esse número de leitores cresça ainda mais, que tenhamos mais bienais, eventos e feiras que atraiam esse público - e que o hábito e interesse pela leitura seja crescente e durador.

Apoiamos a criação e a reforma de bibliotecas públicas e privadas nos âmbitos nacional, estadual e municipal, além de democratizar a leitura a partir da facilidade de acesso aos livros e do apoio ao desenvolvimento do mercado editorial brasileiro.

Também é importante avançar na aprovação da Lei Cortez, em tramitação no Congresso Nacional que propõe que o preço sugerido de capa do livro seja mantido pelo período de um ano, a partir de seu lançamento ou importação, visando a equilibrar a competitividade entre as livrarias físicas e os grandes players do varejo.

Nas últimas décadas, a CBL tem atuado fortemente para manter sua representatividade política perante o Governo Federal e junto ao Congresso Nacional nas áreas do livro e da leitura, com o objetivo de ampliar a influência do setor nas decisões que dizem respeito ao livro.

Por exemplo, é fundamental lutarmos para a implantação e execução efetiva do Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL). Lançado em 2006, com o objetivo primordial de desenvolver o Brasil como sociedade leitora, através dos seus quatro eixos: Democratização do acesso, Fomento à leitura e a formação de mediadores, Valorização institucional da leitura e incremento de seu valor simbólico e Desenvolvimento da economia do livro.

Buscamos ainda estar vigilantes para impedir que avancem medidas para a taxação dos livros, uma vez que a imunidade tributária está garantida na Constituição há praticamente 80 anos. Em 2020, a CBL, juntamente com as entidades representativas do setor, lançou o manifesto “Em Defesa do Livro”, contra a taxação.

A CBL tem também se empenhado em ofertar amplo leque de produtos e serviços a seus associados. Em 2020, a Câmara tornou-se agência oficial do ISBN no Brasil e criou portal exclusivo de serviços permitindo que associados e não associados conseguissem emitir ISBN e código de barras, além de solicitar ficha catalográfica e registro de direitos autorais em formato blockchain, aliando a tecnologia à prestação de serviços de qualidade.

Temos ainda buscado ampliar a participação do Brasil em feiras internacionais e incentivado o encontro de profissionais do setor. Em outubro, sob o lema “O Livro que nos une”, realizaremos o Encontro dos Livreiros, Editores, Distribuidores e Gráficos. Queremos resgatar o prazer de conversar sobre o mercado editorial com convidados e mediadores e abordar diversos temas, da sustentabilidade à transformação digital.

Sem falar na realização do Prêmio Jabuti, que entregará, em sua 64ª edição, a estatueta mais cobiçada desse mercado aos vencedores, em evento presencial em novembro.  Este ano, o número de inscritos bateu recorde: no total foram 4.290 livros inscritos, superando em 25% o volume registrado na edição passada, de 3.422.

Ainda temos muito o que trilhar no caminho à leitura e à valorização do livro no Brasil, mas estamos cada vez mais motivados em apoiar a difusão do conhecimento, a evolução da escrita e o estímulo ao desenvolvimento de pensamento crítico.

Após anos e anos de luta, o livro tornou-se, finalmente, um produto democrático, consumido por cidadãos de todas as idades, etnias, gêneros e classes sociais. Longe de ser uma commodity como qualquer outra, ele é um difusor da cultura, do conhecimento, do saber. A democracia, a liberdade e a inclusão social passam necessariamente pelo amplo acesso à leitura. Não podemos regredir.

*Vitor Tavares é presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL)

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