Juntos e mais fortes em prol do livro e da leitura

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26 de febrero de 2019

Juntos e mais fortes em prol do livro e da leitura

Por Luís Antonio Torelli

 

Seria egocêntrico escrever em primeira pessoa sobre meus quatro anos como presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL). Muitas mãos redigiram esta história. Dei apenas continuidade, a partir de 2015, quando assumi a missão de incentivar o livro e a leitura no Brasil à frente da CBL, com a eleição da chapa Mais livros em todos os sentidos, seguida da reeleição para o biênio 2017-2019, sob o lema Gestão, mercado, governo, mais livros, mais leitores.

Meus anos de vivência e experiência profissional no mercado editorial me encorajavam frente aos desafios que eu iria enfrentar em 2016: um Brasil, à época com 206 milhões de habitantes e com baixíssimo índice de leitura; um mercado agravado por uma crise política e econômica, acirrada em 2014, que retraiu ainda mais a venda de livros e o número de leitores; as inúmeras teorias e projeções dos impactos da revolução tecnológica no mercado editorial global. Parecia quase inevitável a necessidade de repensar o universo do livro, de modo a garantir a sua sobrevivência.

Ao mesmo tempo, para um idealista como eu, a convicção de que nosso segmento poderia superar as dificuldades, tornando-se mais promissor a partir de um maior conhecimento das tecnologias digitais que impactavam esse novo mundo e de sua reconhecida capacidade de superação ao atravessar outras crises em sua história, me alimentavam de esperança. Jamais, contudo – e confesso com a franqueza e a transparência que me caracterizam como gestor –, vislumbrei os tantos outros desafios que iríamos superar e os feitos que realizaríamos durante essa jornada.

É por esse motivo que antes de dedicar as próximas páginas a nossa atuação nestes quatro anos, me sinto movido a começar esta história com meu feliz encontro com uma grande equipe que já vinha mudando a CBL. Na Câmara Brasileira do Livro encontrei profissionais que, assim como eu, são movidos pela paixão em torno de todo o simbolismo do que representa produzir, incentivar a leitura e promover o livro brasileiro no mundo.

Não poderia deixar de mencionar o suporte e a parceria fundamentais dos vice-presidentes e diretores que me acompanharam nas duas gestões e que tão bem representaram o mercado editorial junto à CBL. Competentes profissionais que sempre estiveram presentes, dando apoio, sugerindo e incentivando as ações e as decisões que tomamos nesses quatro anos. Divido também com nossos parceiros e prestadores de serviços o sucesso no desenvolvimento e na implantação dos diversos projetos.
Agradeço a dedicação e o profissionalismo com que atuaram em conjunto com nossa equipe CBL.

Nos descobrimos em uma jornada não somente com o intuito de fortalecer a organização e torná-la referência em conhecimento e soluções para o universo do livro e da leitura em nosso país, mas dispostos a somar sonhos e expectativas na promoção de mudanças. Nosso encontro se fortaleceu numa percepção coletiva comum: a necessidade de buscar e gerar mais conhecimento e capacitação de nossa equipe interna, nos fortalecendo para propor as soluções necessárias aos desafios do mercado editorial dessa nova era. A primeira grande transformação cultural ocorreu no modo de fazer e pensar da equipe CBL, que mergulhou dedicada na proposta.

Profissionais que – agora me permito o uso da primeira pessoa – marcaram mais um capítulo da minha história pessoal e profissional.

A jornada de 1.460 dias

Nesses 1.460 dias, demos mais representatividade e fortalecemos a Câmara Brasileira

do Livro dando continuidade a sua missão histórica desde a fundação, em 1946. Reestruturamos nosso organograma, criamos novas áreas, novos serviços, e inauguramos oito comissões internas de trabalho para pensar soluções e mudanças num mercado em crescente transformação.

Mudanças necessárias para superar os inúmeros desafios que se impõem à produção de livros no Brasil. Pensando nisso, em 2016, criamos a Metabooks, joint venture entre CBL, Feira de Frankfurt e MVB (ambas subsidiárias da Associação de Editores e Livreiros Alemães), para desenvolvimento de uma plataforma de gerenciamento de metadados dos livros produzidos no país.

Acima de tudo, estreitamos os laços com nossos associados, nos aproximando mais de suas expectativas sobre o trabalho da CBL. Para isso, fortalecemos a atuação da gerência de Relações Institucionais, que passou a ser mais proativa e focada nas demandas dos associados. Por esse motivo, o relatório do quadriênio (2015-2019) não é escrito unicamente por minhas mãos, um voo solo meu. É, sim, a continuidade da biografia da instituição que tive o prazer de liderar nesses quatro anos.

Biografia essa escrita em muitos capítulos e por várias mãos ao longo de sua história, o que permitiu à Câmara Brasileira do Livro desfrutar, atualmente, de representatividade inquestionável quando se fala de livro, incentivo à leitura, produção editorial no Brasil e reconhecimento internacional do nosso mercado editorial.

O Livro como inspiração para o futuro

Olhar para o futuro parecia uma ousadia necessária diante de uma realidade entre dois paradigmas: o antigo e o atual.

Ao mesmo tempo em que o Brasil ainda lutava e luta para desenvolver projetos e políticas públicas que incentivem a leitura e o alcance do número ideal de leitores numa sociedade com 207 milhões de habitantes, a disrupção digital movida pelas novas tecnologias passou a alterar profundamente toda a cadeia de produção e comercialização de livros, exigindo uma atuação muito mais relacional e participativa da CBL na superação desses desafios.

E nossa segunda missão era unir todo o mercado: editores, livreiros, distribuidores, vendedores porta a porta, para pensarmos juntos as soluções. Podemos dizer tranquilamente que, em 2018, a CBL se consolidou como instituição de referência e formadora de opinião sobre o livro e a leitura na sociedade brasileira. Passamos a ser fonte de consulta para a imprensa, fomos convidados pelos poderes Executivo e Legislativo brasileiros para participar de debates e projetos de políticas públicas sobre o livro. Juntos nos tornamos mais fortes. Com o olhar no futuro, pensamos em consenso com as outras 14 entidades representativas que compõem o mercado editorial brasileiro. Passamos a falar a mesma língua.

Vencemos, enfim, a barreira das diferenças. Nosso principal êxito foi conciliar interesses e visões, transformando nossa estrutura interna para atender melhor a associados e leitores, e superar as dificuldades em torno dos objetivos desafiadores. E, acreditem, elas eram muitas.

Advocacy como instrumento de conhecimento

Fomos reconhecidos pelo trabalho fundamental de advocacy, intensificado em nossa gestão com a colaboração dos especialistas de nossa área jurídica e a contratação de uma assessoria parlamentar. Monitoramos e contribuímos com mais de 600 projetos de lei propostos pelo Governo Federal e pelo Congresso Nacional; fomos convidados a

participar de comissões e audiências públicas. Tivemos reuniões com representantes da sociedade civil, compartilhamos conhecimento e experiência sobre o livro e a leitura no país. Sobretudo, conscientizamos e fornecemos aos integrantes dos poderes Executivo e Legislativo dados e informações relevantes e reais de nosso mercado, esclarecendo dúvidas e alterando, por meio de nossa reputação e conhecimento, resoluções que poderiam gerar fortes impactos e consequências à produção editorial brasileira.

Se antes era difícil conseguir uma audiência, atualmente as portas se abrem com mais facilidade e somos chamados todo o tempo para participar das discussões. Em média, estivemos em Brasília duas vezes por mês no último ano (2018). Na sanção da lei da Política Nacional de Leitura e Escrita (PNLE), por exemplo, trabalhamos muito até a assinatura do então presidente da República Michel Temer, porque o plano contemplava tudo o que pensávamos como necessário: livrarias, acesso à leitura, bibliotecas. No fim de 2018, a PNLE passou de um programa de governo para uma política de Estado, garantindo uma política permanente e duradoura para o livro, independentemente do governo e da ideologia política em vigor. Uma vitória, com participação fundamental da CBL, em defesa de uma política duradoura do Estado brasileiro para o livro.

Não é falta de humildade dizer que a reputação da CBL foi muito além da já conquistada como a organização responsável e prestigiada pela realização de dois dos principais eventos do mercado editorial brasileiro: a Bienal Internacional do Livro de São Paulo e o Prêmio Jabuti, e por sua atuação no Brazilian Publishers, no mundo. Concentramos esforços no papel do desenvolvimento e da formação de leitores e atuamos mais em nosso braço social de incentivo à leitura, ampliando nosso apoio e nossa participação em feiras e câmaras regionais do livro, assim como na promoção do livro brasileiro no mundo. A partir das oito comissões internas de trabalho criadas com nossos associados, pensamos em outras mudanças audaciosas que viriam a alterar também os formatos das duas últimas Bienais Internacionais do Livro de São Paulo (as de 2016 e 2018) e do Prêmio Jabuti, além de ampliar a atuação do Brazilian Publishers em novas feiras e eventos internacionais, promovendo a produção literária nacional no mundo.

A festa multicultural da 25ª Bienal do Livro

Em 2016, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo entrou no calendário cultural oficial da cidade por meio do Decreto Municipal nº 57.251. Esse tradicional evento da CBL, criado há 50 anos, foi conquistando leitores do Brasil e do mundo ao longo de sua história. Em nossa gestão, demos continuidade à tradição das bienais de buscar algo inovador. E a 25ª edição, em 2018, foi uma grande festa multicultural e ainda mais internacional. Em 2016, já havíamos promovido mudanças, mas foi em 2018 que criamos um novo formato, ouvindo os leitores e conciliando suas expectativas com as dos nossos associados. Fruto de um trabalho da equipe da CBL com a Comissão da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que se reuniu diversas vezes no decorrer de

2017 imersa em um processo de design thinking, todo o evento foi remodelado, pensando primeiro em sua desconstrução para, num segundo momento, reconstruí-lo no formato de festa e de promoção de negócios, em atendimento aos seus dois principais públicos: leitores e expositores.

Criamos espaços setorizados, atendendo às diversas vertentes de novos e antigos leitores e em consonância com as múltiplas especialidades das editoras. Fomentamos cultura e diversidade em painéis com autores, editores, formadores de opinião nacionais e internacionais, promovendo debates atuais sobre diversidade, gênero, religião, numa curadoria que privilegiou questões culturais e atuais de uma sociedade em transformação em torno da importância do livro. Unimos jovens e consagrados autores em debates sobre os novos caminhos do livro e sua conexão com as transformações da sociedade atual. Nos tornamos, de fato, uma festa multicultural do livro. E, diante dos inúmeros resultados que veremos no capítulo dedicado à Bienal do Livro neste relatório, destacamos que totalizamos 663 mil visitantes e um aumento do ticket médio de venda de 30%, em comparação à edição anterior.

Mais literatura brasileira no mundo

Sobre nosso compromisso de disseminar a produção editorial brasileira pelo mundo, só podemos falar com orgulho do Brazilian Publishers (BP) – projeto iniciado em 2008, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), para fomentar exportações de conteúdo editorial brasileiro.

A atuação da CBL em parceria com a Apex alcançou, em 2018, sessenta associados, a partir da promoção e da profissionalização das editoras brasileiras nas principais feiras do mundo. Criamos meetings internacionais de negócio e ampliamos nossa presença em feiras internacionais, indo além das importantes Frankfurt, Bolonha e Guadalajara. Isso foi possível graças à inserção, no cronograma de participação dos associados do BP, em outros eventos relevantes para a promoção do livro brasileiro, como as feiras de Buenos Aires, Bogotá e Londres.

Buscamos nos introduzir mais fortemente no contexto da literatura americana, criando, assim, mais oportunidades para o livro brasileiro.

Outra ação do Brazilian Publishers que merece destaque trata do olhar estratégico lançado para iniciativas e projetos das outras áreas da CBL na elaboração de propostas sinérgicas que potencializassem sua missão dentro da organização. As iniciativas do BP no quadriênio incluíram a Jornada Internacional de Negócios realizada, pela primeira vez, na edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo de 2018, reunindo compradores do mundo todo.

Na 25ª edição, o BP sugeriu o retorno do país convidado, homenageando o Emirado Árabe de Sharjah – um mercado de promoção cultural bilateral e com indiscutível potencial para o mercado editorial do país.

Nos estandes brasileiros que produziu nas feiras internacionais, o BP criou a Jabuteca – biblioteca itinerante com as obras dos vencedores de todas as edições do prêmio, como um indicador da qualidade da produção editorial no Brasil –, marcando presença em todos os eventos internacionais de que participamos. Ações que resultaram em um maior volume de negócios, abrindo espaço não só para grandes editoras, mas para pequenas e médias que, cada vez mais, têm interesse em lançar seus autores e obras no mercado global.

Um Jabuti de coragem e renovado

Por fim, cito o trabalho realizado por nossa equipe no maior prêmio literário brasileiro. A repaginação do prêmio era necessária para atender a intensas e contínuas transformações do mercado editorial. Era inevitável a inclusão de novas categorias literárias que ganharam relevância e caíram no gosto do leitor nos últimos anos, como a de História em Quadrinhos (HQ); era preciso criar uma plataforma digital para gerir com mais tecnologia e agilidade o processo de inscrição, com o corpo de jurados de cada categoria.

Era necessário ainda mudar o formato da cerimônia de premiação, entre tantos aspectos de reformulação que identificamos na comissão interna dedicada ao Jabuti. Houve esforço e trabalho extraordinários da equipe junto ao conselho Curador. Em 2018, o Jabuti passou a ter 18 categorias, em vez das 29 anteriores. E, para nossa surpresa, tivemos, pela primeira vez na história dos sessenta anos do prêmio, um autor independente como ganhador na categoria Livro do Ano. Mailson Furtado Viana o fez em voo solo. Escreveu, ilustrou e publicou o livro à cidade, narrando o sentimento de sua gente, sua realidade e a vida vivida na pequena Varjota, no sertão do Ceará.

Para nós, da CBL, a vitória de Mailson soou como uma mensagem de reconhecimento a todos os desafios que nos propusemos a superar, nesses últimos quatro anos, em busca do aperfeiçoamento e do fortalecimento da instituição diante da inimaginável transformação do mercado do livro no mundo. O mercado mudou e, certamente, ainda há muitas mudanças em curso. Precisamos estar atentos e prontos para atuar sobre elas. Obrigado, equipe CBL! Obrigado, diretoria CBL!

Convido você à leitura dos resultados de todo nosso trabalho nesses últimos quatro anos.

Clique aqui e faça o download do relatório de gestão 2015-2019 da CBL.

 

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