Publishers Weekly – London Show Daily – Quarta-feira, 15 de março de 2017
Há uma história que costuma ser contada sobre o editor Luiz Schwarcz, recentemente anunciado como vencedor do prêmio Lifetime Achievement da London Book Fair deste ano, na categoria International Publishing, escreve Ángel Gurría-Quintana. Em 1986, depois de deixar seu trabalho como diretor editorial da prestigiosa editora Brasiliense, ele estava determinado a fundar seu próprio negócio na área e, para isso, vendeu seu apartamento em São Paulo. Com sua esposa, a historiadora Lilia Moritz Schwarcz, ele fundou a Companhia das Letras, e instalou a empresa na parte traseira do negócio de impressão de sua família.
Schwarcz estava convencido de que os leitores brasileiros estavam prontos para livros além dos clássicos brasileiros e dos títulos para jovens leitores que se tornaram o arroz e feijão da Brasiliense. Certamente, pensou, havia um mercado para a ficção e não-ficção de boa qualidade. Sua primeira escolha - a tradução da obra To the Finland Station (Rumo à Estação Finlândia), de Edmund Wilson - foi uma aposta. Valeu a pena, pois tornou-se um improvável best-seller.
Mais de 30 anos e mais de 6.000 títulos depois, a Companhia das Letras continua a ser o padrão-ouro do mercado editorial brasileiro. Uma pesquisa realizada entre críticos e estudiosos de literatura em 2010 pelo jornal de negócios brasileiro Valor Econômico revelou que era considerada a melhor editora no Brasil - recebeu 81% dos votos dos entrevistados.
Uma combinação de tino comercial com escolhas editoriais sagazes deu à Companhia das Letras a maior participação no mercado editorial do Brasil. A empresa suportou os altos e baixos do mercado editorial do país: com frequência impulsionada por compras governamentais, também chegou perto de se tornar uma vítima da hiperinflação da década de 1990 - por exemplo, a edição, pela Companhia das Letras, da História da vida privada, em vários volumes, já estava quase pronta quando pareceu que não haveria dinheiro suficiente para pagar a impressão. Somente cuidadosas negociações com os credores permitiram que os livros vissem a luz do dia.
Em 2011, uma parceria estratégica com a Penguin permitiu à Companhia a introduzir um amplo leque de títulos clássicos no mercado brasileiro. Sua fusão com a carioca Objetiva, em 2015, a tornou a maior editora única de autores brasileiros.
Hoje, o Grupo Companhia das Letras tem 16 selos diferentes, que vão da literatura infantil à não-ficção, e publica 38 ganhadores do prêmio Nobel, incluindo Toni Morrison, Doris Lessing, José Saramago, JM Coetzee e Orhan Pamuk. A Companhia também tem em seu catálogo alguns dos mais destacados autores brasileiros de ficção contemporânea, tais como Chico Buarque, Rubem Fonseca e Milton Hatoum, além de possuir direitos sobre obras de alguns dos escritores brasileiros clássicos - do poeta Carlos Drummond de Andrade ao romancista Jorge Amado. Além disso, a Companhia das Letras é apoiada do Brazilian Publishers, projeto da Câmara Brasileira do Livro em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex-Brasil).
Sob a liderança de Luiz Schwarcz, o Grupo Companhia das Letras obteve o maior número de prêmios Jabuti - desde 1988, seus autores ganharam 206 galardões na premiação literária mais importante do Brasil. O próprio Schwarcz recebeu inúmeros louvores no Brasil ao longo das décadas, incluindo o prêmio Homem de Ideias (1987) e o prêmio Faz Diferença (2004).
Ele também trabalhou para melhorar a alfabetização entre grupos desprivilegiados no Brasil. Em 2010, a Companhia das Letras foi pioneira na criação de clubes de livros em parceria com bibliotecas locais e centros comunitários. Hoje existem pelo menos 20 desses clubes do livro, incluindo alguns em prisões, hospitais e organizações sociais para jovens desfavorecidos. "A Companhia nunca se propôs ser elitista", disse Schwarcz. "Queríamos democratizar a alta cultura, com livros que fossem acessíveis a todos."
Schwarcz descreve-se a si mesmo como um “fetichista do livro”, é conhecido por evitar os holofotes e costuma se colocar contra o “culto ao editor”. Ele tem evitado fazer comentários abertamente políticos, mas recentemente declarou sua oposição ao impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff.
Famoso por sua atenção aos detalhes e por sua lealdade feroz a seus autores, Schwarcz também foi mentor de uma nova geração de editores, a maioria dos quais começaram na Companhia das Letras e, desde então, passaram a desenvolver carreiras como editores em outras organizações.
“Editar livros é sempre um ato de otimismo,” escreveu Schwarcz. “Quando nos comprometemos com um livro, também estamos inventando o futuro.”
Confirma a matéria:
http://www.digitalpw.com/digitalpw/lbf_show_daily_march_15_2017?pg=NaN#pgNaN