Por Adam Critchley - Publishing Perspectives
Grupo de editores brasileiros para Bolonha
A Câmara Brasileira do Livro (CBL)— associação brasileira de editoras, distribuidoras e livreiros – leva delegações para apenas três feiras: Frankfurt, Guadalajara e Bolonha. Portanto, cada uma delas é bastante importante, de acordo com Luiz Alvaro Salles Aguiar de Menezes, o diretor da organização exportadora de editoração Brazilian Publishers.
Ele liderará uma delegação de 15 editores na Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha, que ocorrerá de 3 a 6 de abril.
E, como nos anos anteriores, Menezes diz que ele espera que os livros infantis brasileiros despertem bastante a atenção e o interesse dos compradores, bem como dos leitores.
“Nossas ilustrações são famosas em todo o mundo,” conta à Publishing Perspectives, “talvez devido às cores que são usadas. E nós esperamos achar novos leitores – e novos leitores são crianças, então nós queremos crescer tanto em casa quanto no exterior.”
“Os compradores prestam bastante atenção aos desenhos, então eles nos ajudam a vender os direitos.”
Interesse abrangente nos Livros Infantis Brasileiros
Luiz Alvaro Salles Aguiar de Menezes
“Nós também estamos começando a fazer negócio com os árabes,” diz Menezes.
Ele esteve na Feira Internacional do Livro de Sharjah do ano passado, e a Autoridade do Livro de Sharjah será uma Convidada de Honra na Bienal do Livro de São Paulo em 2018. Enquanto isso, em Bolonha, a CBL – junto com associações de outros países latino-americanos – irá sediar um evento de mediação para os países árabes.
“Nós temos em torno de 14 milhões de árabes morando no Brasil,” diz Menezes, “então há uma conexão cultural que une o mundo árabe e a gente, e eu espero que nos ajude a vender mais direitos e trazer os nossos mercados de livros mais para perto.”
Conforme apontado pela Publishing Perspectives em setembro, a Xeica dos Emirados Árabes Unidos Bodour bint Sultan Al Qasimi, patrona fundadora da Emirates Publishers Association (EPA), liderou uma delegação de negociação ao Brasil no último outono para fortalecer os laços da indústria.
Essa visita permitiu à delegação UAE a reflexão sobre a crise política e econômica atual brasileira e o seu impacto nas compras de livros pelos consumidores e pelo governo, levando os editores do país a diversificarem seus negócios.
“Essa nova parceria é importante para os dois lados,” disse Bodour na ocasião, “e CBL, EPA, e a Autoridade do Livro de Sharjah querem trabalhar juntas para desenvolver o mercado brasileiro de livros no mundo árabe, e promover os livros árabes no Brasil.”
“É fácil ver o quão apaixonados os brasileiros são pela sua cultura. E se essa paixão puder ser compartilhada com o mundo através da literatura, isso pode ajudar o país a obter melhores resultados, mesmo frente à adversidade.”
Algumas casas editoriais ainda são muito fracas
Menezes diz que a delegação brasileira que vai à Bolonha no próximo mês é composta por casas editoriais grandes e pequenas, incluindo aquelas que acabaram de começar a vender direitos.
“Então, nós vamos ter muito para mostrar, e isso é muito bom para um ano no qual os editores brasileiros ainda estão sofrendo com a crise econômica,” diz ele.
“Nós estamos trabalhando duro para manter o mercado de livros em uma situação saudável e em movimento.”
“Crianças são o futuro. A proposta principal é fazer com que elas leiam, sejam quadrinhos ou um livro de imagens, ou qualquer coisa. “Luiz Alvaro Salles Aguiar de Menezes
“Algumas casas editoriais ainda são muito fracas, mas elas vão sobreviver, vão se recuperar – por isso as feiras são tão importantes para nós vendermos direitos, e é onde os leitores têm um importante papel na recuperação. É uma chance de mostrarmos os nossos livros aos leitores e deles falarem sobre os livros com seus amigos e nas redes sociais.
“Feiras são muito importantes para encontrar pessoas,” ele diz, “é onde encontramos outros editores e autores e nos relacionamos melhor.”
“E os livros infantis são muito importantes porque as crianças são o futuro. A proposta principal é fazer com que elas leiam, sejam quadrinhos ou livros de imagens, ou qualquer coisa. Porém o livro concorre com muita coisa. Com o tempo gasto vendo TV, filmes, teatro, música, esportes. Nós estamos competindo pelo tempo da criança, e isso é algo difícil de se conseguir.”
Editores brasileiros esperam fazer $320.000 em negócios em Bolonha, este ano, com a vendas de direitos.
“Isso é muito dinheiro para os pequenos editores.”
Comprando e vendendo direitos
Julia Schwarcz
“Bolonha realmente é muito importante para nós,” Julia Schwarcz, da Companhia das Letras, uma das maiores casas editoriais do Brasil, cujo cofundador, Luis Schwarcz, acaba de ganhar o Prêmio Lifetime Achievement na Feira do Livro de Londres.
As publicações infantis da Companhia celebraram 25 anos no ano passado, Julia Schwarcz conta à Publishing Perspectives.
“Nós começamos a ir anualmente há uns oito anos atrás,” ela diz. “Inicialmente eu fui apenas para comprar direitos, mas nos últimos quatro anos mais ou menos, nós temos mostrado nossos títulos e tentado vender direitos também.”
E, em tempos de crise econômica doméstica, participar de feiras de livros no exterior se tornou ainda mais importante, ela diz.
“Este ano nós passamos por tempos difíceis no Brasil. Costumávamos vender muitos livros infantis ao governo, mas eles pararam de comprar nos últimos dois anos, o que representou uma grande mudança para a indústria editorial brasileira infantil, levando muitas pequenas editoras a fecharem.
“Para nós, isso significa que não temos muito espaço para comprar, precisamos nos focar mais em vender.”
“Acho que nosso maior novo alvo é a América Latina,” diz Schwarcz, “porque, apesar de estarmos muito próximos, o Brasil e o resto do continente são dois mundos diferentes.”
“Tantas escolas estão pedindo por títulos latino-americanos, como folclore e contos tradicionais, então estamos tentando crescer em cima de um mercado e expandi-lo, e esse é o nosso maior alvo. Mas vender nossos próprios livros é mais importante agora.”
A Companhia das Letras também visita a feira do livro de Guadalajara no México, o maior evento de língua espanhola do mundo, e fez parte de uma delegação de 30 editores na Feira de 2016.
“Somos a maior editora no Brasil em termos de mercado compartilhado,” diz Schwarcz, “e recentemente nos fundimos com a Objetiva, então agora temos quase 20 diferentes publicações, famosas dentro e fora do Brasil.”
Ela também visitou a feira do livro infantil internacional de Xangai e viu muito interesse nos títulos brasileiros. A empresa tem um representante dos direitos na Ásia.
‘Esperamos fazer algum negócio’
Karine Pansa
Para a editora de livros infantis Girassol Brasil Edições, Bolonha é a feira mais importante de todas, de acordo com sua diretora, Karine Pansa.
“Vamos apresentar alguns autores brasileiros durante a feira,” diz Pansa, “e gostaríamos de ter a aceitação do público, e sediaremos algumas entrevistas e esperamos fazer negócio.”
“Eu acho que nossos escritores e ilustradores são bem aceitos na Europa, que é um mercado difícil – o Reino Unido e a França, por exemplo – mas eles são os nossos maiores alvos. Nós tentamos produzir livros que sejam universais e possam entrar em múltiplos mercados.”
Pansa, conhecido pelos leitores da Publishing Perspectives pelo seu trabalho na na Feira do Livro de Frankfurt A conferência de Mercados em 2016, diz que as editoras do país trabalham em grupo, o que lhes dá maiores chances de penetração.
“O suporte que recebemos da câmara do livro foi muito importante, mas não estamos falando apenas de dinheiro, estamos falando de presença. Ter mais de um editor numa feira é muito importante.”
Girassol já vendeu, no passado, direitos para a Espanha, Grécia, e Portugal, mas este último ainda se mantém um mercado difícil, já que os livros precisam ser traduzidos do Português Brasileiro, o que torna o trabalho mais caro e, portanto, um mercado menos competitivo.
“este ano em Bolonha será a primeira vez que teremos uma reunião com os países árabes, já que estamos tentando abrir um novo mercado lá, e vamos apresentar nossos títulos.
Ela diz que uma importante parte do plano de negócios da Girassol são as coedições de suas publicações com casas editoriais em outros países, incluindo Susaeta e Editorial Libsa na Espanha, e Macmillan, Quarto e Parragon no Reino Unido. Isso faz com que a empresa divida os custos e aumente a exposição.
Contudo, a crise continua sendo um problema para livreiros e editoras, diz Pansa, ampliada pela falta de uma legislação de preços do livro no Brasil.
“Os principais pontos de venda – o mercado e o governo – reduziram muito, então espero que esse ano seja melhor. Acho que estamos começando a nos recuperar. Eu espero que sim.”
Rights Watch: Brazilian Publishers Head to Bologna Book Fair