*Vitor Tavares
Às vezes parece ser contraditório dizer que o Brasil é um país de não leitores. Não, não há como negar uma realidade conhecida de todos nós e comprovada pelos números da 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro, em 2019. A sondagem mostra que no intervalo de uma edição da pesquisa à outra, ou seja, de 2015, data da penúltima edição, para 2019, o país perdeu 4,6 milhões de leitores.
Falta de tempo ou o uso desse tempo livre para outras atividades como assistir TV ou navegar em redes sociais são algumas das justificativas para a queda no número de pessoas que têm o hábito de ler.
E, mesmo assim, o livro faz história. Nossa expectativa é de que o ano que se encerra possa fechar o ciclo de três anos de pandemia. Neste 2022, os números da Covid-19 foram mais brandos, a maioria da população está vacinada, e isso nos possibilitou a retomada dos eventos presenciais de forma mais consistente, como tínhamos até 2019.
A 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, por exemplo, voltou com força e foi batizada de “A Bienal das Bienais”. Após uma espera de três anos, já que em 2020 não foi possível realizar o evento por causa da pandemia, a Bienal deste ano foi especial. Os 660 mil visitantes deram a esta edição um crescimento de 10% em relação à de 2018, última vez que a Bienal do Livro foi realizada antes da propagação do coronavírus.
Em 2022, o mercado livreiro do Brasil voltou a marcar posição lá fora. A Feira de Frankfurt, uma das mais importantes do mundo no segmento, realizada em outubro, teve a participação de 21 editoras brasileiras, levadas por meio de uma parceria entre a Brazilian Publishers, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
Em volume de negócios, somente na feira, foram US$ 928 mil. Além de Frankfurt, o Brasil esteve presente em mais seis feiras internacionais, como a de Bolonha, Buenos Aires, Bogotá Gotemburgo, Londres e Guadalajara.
Ao final dos trabalhos em Frankfurt, a cadeia do livro se reuniu para três dias de intensos debates sobre assuntos de interesse de todos os atores envolvidos desde a produção à venda do livro. Editores, livreiros distribuidores e gráficos puderam expor seus maiores desafios e pensar em soluções durante o Encontro de Editores, Livreiros, Distribuidores e Gráficos, realizado em Campinas. O evento reuniu mais de 270 participantes e contou com 40 palestrantes que falaram sobre os mais relevantes temas da atualidade.
Em novembro, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) foi à Indonésia receber o prêmio Innovation Awards, da International Publishers Association (IPA). O projeto Conexão Livraria, idealizado para que pequenos livreiros tenham acesso a grande estrutura de venda online, foi considerado uma inovação por colocar as pequenas livrarias no ambiente de e-commerce de venda de livros, fortalecendo as livrarias físicas, que desta forma têm a possibilidade ampliar sua área de atuação.
Dias depois, veio a Feira Literária Internacional de Paraty, e a CBL estava lá, discutindo o futuro do mercado livreiro e os atuais desafios do segmento.
Também avançamos na trincheira política. Antes do primeiro turno das eleições, a CBL e outras entidades parceiras na defesa do livro entregaram uma Carta Aberta aos candidatos e candidatas à Presidência da República, reivindicando, entre outras coisas, a garantia da manutenção da imunidade tributária ao livro e a criação de políticas de acesso à leitura, como a implantação do PNLL (Plano Nacional do Livro e Leitura) e de garantia de aquisição de livros para os alunos de todo o país. O livro precisa ter mais destaque no planejamento de políticas públicas e parte do nosso trabalho é atuar para conseguir ampliar seu protagonismo.
A CBL também atuou na defesa do mercado de livrarias. Afetadas pela pandemia nos últimos dois anos, elas representam uma significativa força de vendas e, segundo a pesquisa “Retratos da Leitura”, são a principal porta de acesso aos livros para 41% dos entrevistados. Além disso, elas representam oportunidade para geração de empregos e fomentam a bibliodiversidade em nosso país.
Também trabalhamos arduamente junto aos congressistas pela aprovação da Lei Cortez, que institui a Política Nacional do Livro e o equilíbrio de preços em todos os seus formatos.
Em paralelo a todos esses eventos e ações, o caminho para o Prêmio Jabuti ia sendo pavimentado para a entrega da premiação no dia da cerimônia. O evento deste ano também foi muito especial. O Prêmio Jabuti voltou a ser presencial, teve recorde de inscritos, com mais de 4.200 obras e foi realizado no Theatro Municipal de São Paulo, em homenagem ao centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, que também ocorreu no Municipal.
O mercado do livro tem tudo para se fortalecer nos caminhos que estamos trilhando. Para 2023, mais avanços: teremos a primeira brasileira à frente da International Publishers Association (IPA). A ex-presidente da CBL Karine Pansa foi eleita para o próximo biênio e assume a presidência da IPA em janeiro. O Brasil estará a frente da maior organização internacional do livro.
Com foco na manutenção da liberdade de expressão, a CBL passou a integrar o Wexfo (World Expression Forum), o maior fórum em defesa da liberdade de expressão, composto por 71 membros ao redor do mundo. Seguimos na defesa dos principais objetivos do mercado editorial e livreiro, como a defesa dos direitos autorais, da propriedade intelectual, a ampliação e o fortalecimento do hábito da leitura, o fortalecimento das livrarias físicas, o desenvolvimento do setor e a defesa do livro em todas as suas vertentes.
Enfim, são boas as perspectivas para o segmento, mas continuamos com muito trabalho pela frente.
*Vitor Tavares é presidente da CBL (Câmara Brasileira do Livro)