{"id":50708,"date":"2017-03-07T00:00:00","date_gmt":"2017-03-07T03:00:00","guid":{"rendered":"https:\/\/cbl.org.br\/2017\/03\/07\/bom-dia-mercado\/"},"modified":"2022-05-26T15:44:08","modified_gmt":"2022-05-26T18:44:08","slug":"bom-dia-mercado","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/cbl.org.br\/es\/2017\/03\/bom-dia-mercado\/","title":{"rendered":"Bom dia, mercado"},"content":{"rendered":"
PUBLISHNEWS, LUIZ MACHANOSCKI - JESUS*, 07\/03\/2017<\/em><\/p>\n Luiz Machanoscki faz um desabafo e defende de forma po\u00e9tica o of\u00edcio dos livreiros<\/em><\/p>\n Gostaria de agradecer, primeira e grandiosamente, \u00e0 Livraria Saraiva por minha incurs\u00e3o no mundo livreiro. Era um jovem aquecido pelas novidades tecnol\u00f3gicas, afoito por uma resposta da vida adulta e andarilho dos livros. Fiquei com medo sincero de que a aprova\u00e7\u00e3o de ser um vendedor de livros poderia me privar de ter minha caracter\u00edstica efusiva, com a cabe\u00e7a cheia de cabelo e protuberantes pelos na face. Fui aceito e\u2026 surpresa! \u2013 me disseram \u201cIsso \u00e9 bom\u201d.<\/p>\n A desconfian\u00e7a era que minha personalidade, posta visualmente, n\u00e3o seria bem vista em um ambiente profissional. Mas aos poucos vi, da maneira mais bonita, algumas certezas quanto ao ser humano serem colocadas em pr\u00e1ticas di\u00e1rias de aprendizado e conquista. A t\u00e9cnica do neg\u00f3cio tamb\u00e9m havia sido catequizada por m\u00e9todos pautados em n\u00fameros e experi\u00eancias, mas, ainda assim, se mantinha aberta ao di\u00e1logo. O diferente era comum e, muito mais importante, era o ingrediente do melhor que cada um poderia proporcionar. Aquelas hist\u00f3rias e pr\u00e1ticas inventivas, m\u00e1gicas ou sofridas s\u00f3 ajudavam as certezas de uma fr\u00e1gil exist\u00eancia, ou ainda melhor, cativavam d\u00favidas que ficavam cada vez mais concretas.<\/p>\n Dentro da Saraiva, aprendi a amar as diferen\u00e7as. E n\u00e3o digo de carapu\u00e7as, porque essas, definitivamente, j\u00e1 no ber\u00e7o aprendi serem vol\u00e1teis. Refiro-me \u00e0 arte da dita empatia, t\u00e3o malograda no uso, no usufruto de uma das a\u00e7\u00f5es mais penosas do ser humano. O livro \u00e9 um objeto genial \u2013 lindo, dur\u00e1vel, org\u00e2nico, rico, fino e, o melhor, acess\u00edvel.<\/p>\n Essa galera que trabalha com o livro sabe. \u00c9 uma quest\u00e3o social. N\u00e3o me venha questionar o rumo capitalista! Temos sustento, mas sem desmerecer profiss\u00f5es, todos sabemos que a escolha da comercializa\u00e7\u00e3o da sapi\u00eancia n\u00e3o \u00e9 vulgar.<\/p>\n Mas vamos l\u00e1... prazos c\u00e1usticos de recall<\/i>, did\u00e1ticos malucos, promo\u00e7\u00f5es na ponta do l\u00e1pis do dia para a noite\u2026 e corre para fazer embrulho! Se o leitor n\u00e3o sabe dessas quest\u00f5es \u2013 n\u00e3o que seja obrigado a saber, como consumidor \u2013, n\u00e3o fique bravo ao saber que o seu atendente n\u00e3o leu as centenas de romances lan\u00e7ados na semana nem pintou os milhares livros que invadiram as lojas em 2015. Vejo muita cr\u00edtica aos profissionais da \u00e1rea, sejam eles compradores, promotores, vendedores ou gente do SAC. Todo trabalho tem percal\u00e7os e se calca no sucesso financeiro. S\u00e3o muitas coisas a melhorar e acho que por isso hoje estou contratado. Percebo muita paix\u00e3o e criatividade para fazer o livro acontecer. E, muitas vezes, o pr\u00eamio \u00e9 aquela hist\u00f3ria do leitor. Comovente, bonita e distante das redes sociais. Leitor, o livreiro te ama. Ele est\u00e1 l\u00e1 por voc\u00ea. E isso importa. Me fez lembrar que essa rela\u00e7\u00e3o por vezes acaba em casamento, e d\u00e1 filho, ou junta, j\u00e1 que a lei n\u00e3o legaliza alguns amores. Esse amor tem uma fam\u00edlia, com autores que querem filhos prematuros, editores que t\u00eam preocupa\u00e7\u00e3o se o rebento adotado n\u00e3o passear nas lojas...<\/p>\n E ainda tem os promotores\u2026 Mesmo trabalhando em uma editora hoje, n\u00e3o tenho muita ideia do que a galera de outra editora faz. N\u00e3o por ignorar, mas a dan\u00e7a conv\u00e9m a cada dan\u00e7arino e ao seu ritmo. Aprendi com o Rock que a mensagem deve ser dada. \u00c0s vezes, a turbul\u00eancia ajuda na veracidade, pois se nem conseguimos responder d\u00favidas simples, como vamos argumentar que caminhamos muitos quil\u00f4metros por dia para ver que uma s\u00e9rie de calhama\u00e7os de papel est\u00e1 vinculada a uma grande rede de varejo que\u2026 bom, deixa para l\u00e1, por a\u00ed vai.<\/p>\n Eu falo apaixonadamente de gente genial que mudou minha vida. Com t\u00e9cnica, primor, plasticidade, narrativa e arte. Isso tudo que desabafo aqui pode ser um texto fora do comum. Inculto, chulo, bobo\u2026 Mas se moveu sua curiosidade e arrogantemente te fez feliz ou inteligentemente te fez infeliz, estou satisfeito ou nunca satisfeito \u00ad\u2013 como diz a m\u00fasica dos Stones.<\/p>\n Vivo na terra dos mascastes, do forasteiro aprendendo a fazer lei. Nessa terra permane\u00e7o, pois \u00e9 um terreno com frutos, do qual nasci e me misturei. Precisamos de mudan\u00e7as, mas n\u00e3o venha cuspir no prato que comeu. Pegue sua lou\u00e7a mais bonita de Portugal, com as ra\u00edzes mais saborosas que os ind\u00edgenas te deram, e as vari\u00e1veis africanas e europeias que lhe convir, e v\u00e1 vender sua comida! Porque \u00e9 \u00fanica, arretada, porreta e m\u00e1gica!<\/p>\n