{"id":91081,"date":"2024-11-28T10:52:57","date_gmt":"2024-11-28T13:52:57","guid":{"rendered":"https:\/\/cbl.org.br\/?p=91081"},"modified":"2024-11-28T10:52:57","modified_gmt":"2024-11-28T13:52:57","slug":"o-preco-da-liberdade-e-os-livros","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/cbl.org.br\/en\/2024\/11\/o-preco-da-liberdade-e-os-livros\/","title":{"rendered":"O pre\u00e7o da liberdade e os livros"},"content":{"rendered":"

Por Diego Drumond<\/em><\/span><\/p>\n


\n<\/em>Livro e liberdade deveriam ser a mesma coisa. Desde a inven\u00e7\u00e3o dos primeiros s\u00edmbolos, liberdade fomentou leitura e interpreta\u00e7\u00e3o, que estimularam a circula\u00e7\u00e3o de livros, e esse ciclo \u00e9 liga das principais engrenagens do processo civilizat\u00f3rio. \u201cA liberdade \u00e9 uma livraria\u201d, ensinou o poeta espanhol Joan Margarit.<\/span><\/p>\n

A oferta de livros deve ser livre. A demanda tamb\u00e9m. O conte\u00fado, sem d\u00favida, s\u00f3 ser\u00e1 de qualidade se produzido isento de sombra censora, escrito sem medo de pensar.<\/span><\/p>\n

Livros s\u00e3o e devem permanecer sempre livres em todos os aspectos, inclusive nos pre\u00e7os.<\/span><\/p>\n

Assim como \u00e9 feito com a maioria dos produtos confeccionados sob livre iniciativa, quem deve calcular e estabelecer o pre\u00e7o de venda de um livro \u00e9 a empresa que o oferta ao mercado, no nosso caso a editora, que investiu na produ\u00e7\u00e3o e assumir\u00e1 os riscos da publica\u00e7\u00e3o. No Brasil, a cadeia produtiva dos livros n\u00e3o \u00e9 tranquila nem voa em c\u00e9u de brigadeiro, mas \u00e9 capaz de equilibrar oferta, demanda e pre\u00e7os, sempre fez, funciona.<\/span><\/p>\n

Como a pr\u00e1tica insiste em interferir nas teorias, o mercado editorial apresenta um calcanhar de Aquiles que desafia o pensamento econ\u00f4mico. Longe do senso comum que acredita ser a digitaliza\u00e7\u00e3o do mundo, ou os baixos \u00edndices de leitura, nosso ponto mais fraco hoje \u00e9 exposto por um estratagema antigo, utilizado por varejistas generalistas, e que sufoca nossos pontos de venda especializados. O livro est\u00e1 sendo usado como isca de baixo investimento para pesca e cativa\u00e7\u00e3o de clientes qualificados. Quem compra e l\u00ea livros j\u00e1 venceu ou vai vencer na vida e, nesse sentido, \u00e9 o peixe que todo varejista deseja em seu aqu\u00e1rio.<\/span><\/p>\n

A minhoca parece suculenta, voc\u00ea \u00e9 livre para escolher, um forte desconto aparece naquele livro novo, que voc\u00ea j\u00e1 decidiu comprar, por\u00e9m ainda n\u00e3o escolheu onde. A tenta\u00e7\u00e3o \u00e9 grande, o frete \u00e9 gr\u00e1tis e o anzol \u00e9 certo. A linha vai te levar diretamente \u00e0 base de dados de um varejista generalista que almeja vender muito mais do que livros. O esfor\u00e7o dele \u00e9 conquistar esse leitor e conduzi-lo ao outro lado da tabela de pre\u00e7os, onde mora a margem de lucro.<\/span><\/p>\n

\u00c9 uma t\u00e1tica inteligente e agrada consumidores que deduzem que tudo o que varejista faz \u00e9 para favorec\u00ea-lo, melhor atend\u00ea-lo e os pre\u00e7os ser\u00e3o sempre favor\u00e1veis por ali. N\u00e3o \u00e9 ilegal, os descontos s\u00e3o livres. Mas essa t\u00e1tica tem um efeito colateral s\u00e9rio.<\/span><\/p>\n

Livrarias s\u00e3o varejistas especializados, o faturamento adv\u00e9m preponderantemente da venda de livros. Se tentarem acompanhar os fortes descontos que varejistas generalistas concedem para os livros rec\u00e9m-lan\u00e7ados, marcar\u00e3o encontro com as bancas de advogados que organizam as recupera\u00e7\u00f5es judiciais, como vimos em s\u00e9rie, recentemente.<\/span><\/p>\n

Cada vez que uma livraria fecha ou \u00e9 reduzida, algu\u00e9m deixa de descobrir um livro e isso \u00e9 sempre uma perda para toda a sociedade. Se meu espa\u00e7o fosse ilimitado eu detalharia como isso for\u00e7ar\u00e1 at\u00e9 os varejistas a trocarem de isca, l\u00e1 no dia em que todos n\u00f3s estivermos lendo menos. Grandes magazines n\u00e3o querem ser livrarias, \u00e9 muito trabalho para pouco dinheiro.<\/span><\/p>\n

A principal virtude da livraria consiste em ser um com\u00e9rcio e um aparelho cultural ao mesmo tempo, um neg\u00f3cio gerido com arte e matem\u00e1tica. Mesmo que n\u00e3o venda um s\u00f3 livro num dia ruim, a livraria oferta valor para os que visitam, eleva o bairro e a cidade, traz cultura ao povo. Como escaparmos da armadilha e, ao mesmo tempo, mantermos nossa liberdade econ\u00f4mica?<\/span><\/p>\n

Cada qual a seu modo, Jap\u00e3o, Espanha, Argentina, It\u00e1lia, M\u00e9xico, Fran\u00e7a, Alemanha, Inglaterra, Cor\u00e9ia do Sul, Portugal e diversos outros, chegaram \u00e0 mesma f\u00f3rmula sofisticada e que deu conta de equalizar o mercado, evitando distor\u00e7\u00f5es artificiais, sem ferir a liberdade de pre\u00e7os e a livre iniciativa, rejeitando regula\u00e7\u00e3o. \u00c9 uma solu\u00e7\u00e3o j\u00e1 antiga, alguns pa\u00edses aplicam com sucesso faz mais de meio s\u00e9culo, comprovadamente eficaz para uma disfun\u00e7\u00e3o mercadol\u00f3gica recorrente no mundo dos livros.<\/span><\/p>\n

As editoras determinam livremente os pre\u00e7os e podem modific\u00e1-los a qualquer tempo, inexiste tabelamento ou o Estado intervindo no pre\u00e7o do produto. \u00c9 vedada a concess\u00e3o de descontos exagerados (acima de 10%) apenas em livros rec\u00e9m-lan\u00e7ados. Depois de um ano, os descontos s\u00e3o liberados. A breve restri\u00e7\u00e3o \u00e9 um lampejo, alcan\u00e7a somente\u00a0<\/span>6% dos livros \u00e0 venda, mas, com efeito, ilumina a alma das livrarias, que passam a vender o \u201cp\u00e3o quente\u201d em igualdade de condi\u00e7\u00f5es, concorrendo em um mercado livre e sobrevivendo para ofertar e difundir todo o restante da produ\u00e7\u00e3o liter\u00e1ria mundial, que vale pouco como isca, mas que exprime todo o conhecimento existente no mundo civilizado e precisa ser semeada.<\/span><\/span><\/p>\n

Estudos s\u00f3lidos comprovam que esse sistema, no m\u00e9dio prazo, estimula a redu\u00e7\u00e3o dos pre\u00e7os sugeridos pelas editoras, j\u00e1 que passam a ser menos pressionadas por descontos e deixam de reagir prevendo pre\u00e7os majorados para cobrirem seus custos de produ\u00e7\u00e3o. Os pre\u00e7os m\u00e9dios entre livrarias e varejistas generalistas findam convergindo numa linha inferior aos patamares anteriores.<\/span><\/p>\n

O mercado editorial brasileiro adapta, assimila, negocia e burila esse sistema faz mais de vinte anos, equilibrando preserva\u00e7\u00e3o do livre mercado e justa veda\u00e7\u00e3o \u00e0s pr\u00e1ticas destrutivas anticoncorrenciais. Nosso Congresso Nacional decidir\u00e1 em breve se seguiremos buscando o caminho de uma na\u00e7\u00e3o leitora, com livros e livrarias livres.<\/span><\/p>\n

Viva o livro, viva a liberdade, viva a livraria!<\/span><\/p>\n

Diego Drumond \u00e9 vice-presidente da C\u00e2mara Brasileira do Livro, diretor da Associa\u00e7\u00e3o Brasileira de Difus\u00e3o do Livro, s\u00f3cio da Faro Editorial e da Drummond Livraria.<\/em><\/span><\/p>","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Por Diego Drumond Livro e liberdade deveriam ser a mesma coisa. Desde a inven\u00e7\u00e3o dos primeiros s\u00edmbolos, liberdade fomentou leitura e interpreta\u00e7\u00e3o, que estimularam a circula\u00e7\u00e3o de livros, e esse ciclo \u00e9 liga das principais engrenagens do processo civilizat\u00f3rio. \u201cA liberdade \u00e9 uma livraria\u201d, ensinou o poeta espanhol Joan Margarit. A oferta de livros deve […]<\/p>","protected":false},"author":9,"featured_media":91082,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_acf_changed":false,"footnotes":""},"categories":[4,1],"tags":[],"class_list":["post-91081","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-artigos","category-nao-categorizado"],"acf":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/cbl.org.br\/en\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/91081","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/cbl.org.br\/en\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/cbl.org.br\/en\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/cbl.org.br\/en\/wp-json\/wp\/v2\/users\/9"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/cbl.org.br\/en\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=91081"}],"version-history":[{"count":1,"href":"https:\/\/cbl.org.br\/en\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/91081\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":91083,"href":"https:\/\/cbl.org.br\/en\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/91081\/revisions\/91083"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/cbl.org.br\/en\/wp-json\/wp\/v2\/media\/91082"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/cbl.org.br\/en\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=91081"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/cbl.org.br\/en\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=91081"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/cbl.org.br\/en\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=91081"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}